- A mala/pochette encontrada é de X.
- O telemóvel amaldiçoado está na mala/pochette.
- Logo, o telemóvel é de X.
No entanto, a vida real é, infelizmente, muitíssimo mais complexa. Michael é chamado a depôr. Primeiro na qualidade de testemunha. Mas na cabeça do agente que conduz a entrevista (chamemos-lhe desta feita "Agente Marcelo") a situação é clara: à sua frente irá surgir-lhe perigoso fora-da-lei, um indivíduo sem sentimentos, que dedica a sua vida ao crime, entre dois goles de whisky e noites tórridas de sexo com mulheres de seios torneados, atraídas pela adrenalina da vida deste. E depois aparece Michael. A desilusão é óbvia, estampada na cara de Agente Marcelo. Ou os bandidos modernos têm um metro e sessente e pouco, ou esta vai ser uma tarde monótona. A suspeita cai por terra. Ou por X ter 20 e tal processos em aberto, ou por Michael ter imediatamente pedido piedade e ter justificado o brutal assassinato das melgas que povoam a sua morada com o picotado que preenche o seu corpo e lhe provoca uma terrível comichão. Adiante. Gorada a hipótese de brincar aos polícias a sério, com murros na mesa e em Michael numa sala sem janelas, Agente Marcelo começa a preencher o depoimento. Luta por conseguir traduzir em palavras o que o relato mirambolesco que Michael partilha com ele lhe sugere. Terminadas as formalidades, Michael despede-se de Agente Marcelo com um aperto de mão e a certeza de um reencontro com semelhante figura de autoridade em Coimbra, onde o mítico assalto ocorreu.
Michael sai da esquadra. Os seus membros tremem. A sua primeira vez com o sistema judicial foi tão intenso quanto sonhara. É testemunha num Processo-Crime. E ao ritmo a que pula e avança a Justiça do país em que vive, mais capítulos povoarão o futuro de Michael na sequência do já badalado Crime do Avenida na Sá da Bandeira.
Enfim, acontece-me tudo...