É difícil definir-se. É fácil a análise forasteira. É difícil vestir a pele que de nós esperam e estar à altura dela, seja ela qual for. Todos nos disfarçamos. Ninguém é genuíno. O disfarce que vestimos é um fardo. Torna-se aquilo que somos sem nunca o sermos. E nunca mais pode ser despido. Todos os dias o vestimos e tentamos torná-lo o mais perfeito possível. Espera-se de nós que ele seja cada vez mais trabalhado. Mas porquê? Seria tão mais fácil podermos ser nós mesmos, sem máscaras, sem nada. Mas será possível? A vida é um reles truque de ilusionismo. Tentamos ser todos mais bonitos e correctos que realmente somos. Mas qualquer ilusão só existe até se desvendar o seu segredo. E com o tempo a ilusão cai. Todos caímos. Todos temos fraquezas e elas acabam sempre se mostrar. Basta olhar com atenção. E perdemos o mistério. Qualquer piada só tem relamente graça uma vez. Quanto mais recorrente, mais gasta. E a cada dia nos gastamos. Aos nossos olhos, que são sempre os que mais abarcam, e inevitavelmente aos dos outros. Perdemos o encanto do primeiro dia, tornamo-nos repetitivos e vulgares. Tornamo-nos previsíveis e perdemos o encanto. O nosso nome passa a ser mais um e não o nome. Tentamos tornar-nos únicos e passamos a vida a sublinhar que somos irrepetíveis. Mas a verdade é que somos todos iguais. Inventamos línguas, credos e regras para nos diferenciarmos quando na verdade, despidos de tudo, nada nos distingue. Fazemos as mesmas coisas. Somos rotineiros. Tirando todas as máscaras todos somos iguais. O rico come, o belo bebe. O pobre e o feio idem. Da mesma forma ridícula, seja com as mãos ou com talheres de prata. Da boca para a frente o caminho é o mesmo e nos dois acaba em merda. Inventamos palavras para nos afastarmos e sermos o mais exclusivos possíveis. O rico tem uma mansão, o pobre uma barraca. Mas em última instância, ambas servem o mesmo prepósito. Todos morremos e acabamos comidos pela terra. Com a mesma dignidade (ou falta dela). Duvido que os bichos tenham o cuidado de saborear melhor a carne do geneticamente abençoado do que a do fisicamente repugnante. Não sabendo muito bem como acabar o que sabe-se lá como começou, talvez um ponto final sirva.
Há 14 anos
já se dizia " a vida são dois dias e o carnaval são três". com ou sem máscaras, projectamos em nós o que se vê nos outros. só nos esquecemos que é impossivel agradar a gregos e a troianos. mas no fim somos todos a mesma coisa. palhaços!
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