Teclas pensadas entre finos e cigarros numa qualquer esplanada.

29/05/2009

O "Caso Alexandra"

Depois de ver nas várias agências noticiosas nacionais peças sobre este caso fiquei em dois estados adjectivamente qualificáveis: destroçado e curioso. Destroçado, por ver a pobre Alexandra, de 6 anos, note-se, a ser arrancada à única família digna desse nome que alguma vez tinha conhecido, num degradante espectáculo mediático (degradante, mas que não deve ser censurado, digo eu). Por outro lado, e como referi, a minha curiosidade foi desperta, no sentido de acompanhar os desenvolvimentos. Depois do chamado Caso Esmeralda, pensei que se tivesse despertado uma maior consciência, por um lado, social (com a coisa das 200.000 assinaturas entregues no parlamento pela Dra. Maria Barroso), por outro, jurídica (se é que se pode a expressão consciência jurídica, mas como qualquer leigo, dou-me ao luxo de inventar). Se a primeira consciência acredito que tenha florescido entre nós, penso que a segunda continua de mãos atadas por uma Legislação que não permite decisões menos punitivas para os únicos inocentes, as crianças, exilando-as, em dias de festa, na Rússia. Contudo, continuo a ser um leigo a mandar bitaites sobre Legislação.

Mas o que realmente me traz a este convívio é uma simples frase proferida num debate subordinado ao mesmíssimo tema que este breve texto, que vi na sequência do espicaçar da minha curiosidade.

Na passada quinta-feira, após o Jornal da Noite da SIC, atentei ao programa Aqui e Agora, que como sabem, consta de um debate sobre temas da actualidade, moderado por Rodrigo Guedes de Carvalho. Para além dos pais afectivos da criança, estavam presentes no estúdio o advogado Rogério Alves, o psicólogo Eduardo Sá, a Presidente do Instituto de Apoio à Criança, Manuela Ramalho Eanes e o Presidente do Instituto da Segurança Social, Edmundo Martinho. E foi este o dono da preciosidade que relato.

Justificando o acima referido degradante espectáculo mediático, aquando da entrega da Alexandra à mãe biológica - estando esta literalmente aos gritos e a chamar pelo pai afectivo - o Dr. Edmundo Martinho disse o seguinte:

"Eu tenho que dizer alguma coisa, porque obviamente as imagens que vimos no início são imagens que nos chocam a todos, mas as imagens que vimos corresponderam a uma situação que não correspondeu àquilo que estava acordado. O acordo que estava feito entre os advogados de ambas as partes - o advogado do lado da mãe da criança e o advogado da Sra. Dona Florinda e do Sr. João Pinheiro - era que fariam a entrega entre ambos às 8h30 da manhã. Para evitar toda esta perturbação que se gerou."

E eu concluo que este senhor é apologista de que o que os olhos não vêem, o coração não sente. Entregava-se a criança de manhãzinha, com toda a gente ainda a dormir, porque se ninguém visse, ninguém levantava a voz. Escandaloso, digo eu! Lembrou-me um pouco o Provedor da Casa Pia, Luís Rebelo, à data do escândalo, referindo que se existia em centenas de profissionais apenas um pedófilo, não seria relevante em termos estatísticos. Enfim.

P.S. (1): Nota humorística para o facto de o Sr. João Pinheiro, pai afectivo da pequenina, ainda viver uns bons anos atrás, a julgar pelos seus conhecimentos de Geografia, tendo referido no mesmo espaço televisivo, e cito, "(...) e vou-te espetar lá pr'á União Soviética e depois eles que se entendam!".

P.S. (2): Para quem perdeu ou quiser rever o debate, ele encontra-se aqui.

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